Saber se comunicar e escrever bem é essencial para todos, especialmente para síndicos e administradores de condomínios. Pensando nisso, a coluna ”Não tropece na língua”, da Professora Maria Tereza Q. Piacentini, passa a fazer parte do nosso site. Todo mês uma nova publicação sobre a língua portuguesa.
Confira:
5 – FÓRMULAS DE MODÉSTIA E MAJESTADE
De Campo Grande/MS escreve o leitor O.M de Araújo para perguntar o que é plural majestático.
Em duas palavras, é o emprego da 1ª pessoa do plural no luga da 1ª pessoa do singular. Significa dizer ”(Nós) queremos manifestar nossa satisfação” em vez de ”(Eu) quero manifestar minha satisfação”.
Os antigos reis de Portugal adotaram a fórmula ”Nós, el-rei, fazemos saber…” procurando, num estilo de modéstia, diminuir a distância que os separava do povo. Até que no início do séc. XVI, com D. João III, aparece o absolutismo real e a consequente mudança da fórmula para a 1ª pessoa: ”Eu, el-rei, faço saber que…” Entretanto os altos prelados da Igreja continuavam a usar o pronome NÓS como um tratamento de humildade e solidariedade com os fiéis. Só que, crescendo a Igreja em poder e bens temporais, aquele plural começou a dar a impressão não de modéstia mas sim de grandeza e majestade. Daí o nome ”plural majestático”.
Sua outra denominação é ”plural de modéstia”. Ainda o utilizam escritores, oradores e políticos, que dessa forma pretendem fundir-se em simpatia com seus leitores, ouvintes e correligionários, parecendo com eles compartilhar suas ideias e afastando qualquer noção de importância pessoal, vaidade e orgulho.
Mas veja bem: não é necessário que numa correspondência formal ou num discurso o redator tenha de usar a 1ª pessoa do plural para ”não ficar mal”. De modo algum! Desde que ele esteja falando em seu próprio nome e não no de uma coletividade ou da empresa como um todo, é natural que se expresse na primeira pessoa do singular:
Venho transmitir-lhe meus cumprimentos…
Solicito a colaboração de todos…
Recebam os meus agradecimentos…
Tenho a certeza do seu empenho…
Minha intenção é dar o melhor de mim pela comunidade…
Quando, porém, prefere usar o plural majestático, o redator ou orador deve saber que verbos e pronomes vão para o plural, mas os adjetivos permanecem no singular, flexionando de acordo com a pessoa que fala ou a quem eles se referem. Por exemplo:
Sejamos claro e sucinto (falou o doutor).
O mestre agradeceu dizendo: ”Nós nos sentimos orgulhosos com esta homenagem”.
Não pretendemos ser vaidoso, acreditem.
Estamos imunizada contra os ataques solertes da oposição – bradou a deputada.
Claro que quando o redator quer se referir também à coletividade, à instituição junto, deve empregar todos os termos (verbos, pronomes e adjetivos) no plural:
Nós nos sentimos felizes com a lembrança do nosso nome…
Não seremos responsáveis pelas suas atitudes.
Estamos cientes do ocorrido em nossas instalações.
Sejamos pacientes e peçamos a Deus pelo melhor para o Brasil.
Ainda é possível, dentro de um mesmo discurso, ofício, tese, parecer etc., mesclar parágrafos de 1ª pessoa do singular com outros de 1ª pessoa no plural, dependendo da situação ou da realidade a ser destacada (pessoal ou institucional).
Este conteúdo está disponível no Livro: Não tropece na língua – lições e curiosidades do português brasileiro.
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Sobre o autor
Maria Tereza de Queiroz Piacentini
Catarinense, é licenciada em Letras (Português e Inglês), com Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.
Atualmente ministra cursos de português, revisa livros – incluindo revisão técnica de traduções do inglês e francês – e, como diretora do Instituto Euclides da Cunha, sediado em Curitiba/PR, é responsável pela consultoria de português e pelos textos do portal www.linguabrasil.com.br .
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