Publicado em 10 de dezembro de 2025
Menos de 50% dos condomínios de Niterói aderem à nova Lei dos Contêineres e à coleta seletiva Lixo na cidade é desafio para catadores, prefeitura e moradores
Lixo na cidade é desafio para catadores, prefeitura e moradores
Niterói enfrenta desafios na gestão do lixo que vão das calçadas das ruas à manutenção dos programas de reciclagem. Apesar da nova Lei dos Contêineres, implementada para organizar a coleta de lixo na cidade, e do incentivo à reciclagem por meio de programas de coleta seletiva, apenas cerca de 45% dos condomínios da cidade aderiram a todas iniciativas, segundo estimativa da prefeitura.
A Lei dos Contêineres encontrou resistência de grupos de síndicos, que apontam falhas na logística da Companhia de Limpeza de Niterói (Clin). Os principais entraves são a falta de regularidade e a demora nos horários de passagem dos caminhões.
— A maior dificuldade é ter funcionários que possam retirar os contêineres das calçadas, pois a Clin não tem regularidade nos horários. Tem dias que passam às 20h; já em outros, só depois de meia-noite — relata Aparecida Defante, representante de um grupo de síndicos com cerca de 400 condomínios.
O síndico profissional José Olivan relata que a permanência dos contêineres nas calçadas por longos períodos facilita a ação de catadores autônomos que espalham lixo e obriga os condomínios a manterem funcionários em hora extra.
Em resposta, a prefeitura afirma que, neste primeiro mês de vigência da lei, a dificuldade se concentra na adequação das edificações que não utilizavam o equipamento e destaca que o descumprimento leva à orientação e, em caso de reincidência, à notificação.
A Clin argumenta que a coleta seletiva é incentivada por diversos programas, como o Recicla Niterói, os Pontos de Entrega Voluntária (PEV), a Coleta Porta a Porta e o Clin Comunidade Sustentável, e que campanhas de educação ambiental são realizadas com agentes e palestras, mas afirma que as iniciativas esbarram na baixa adesão popular.
— Acredito que se isso fosse mais bem divulgado, se os condomínios tivessem conhecimento, haveria uma adesão maior — pondera Olivan.
‘Enterramos dinheiro’
Dirlane Carmo, professora do Departamento de Engenharia Agrícola e do Meio Ambiente da UFF, alerta que a falta de separação correta do lixo é um desperdício de recursos.
— Em média, cada brasileiro gera um quilo de resíduo por dia. A partir do momento em que não coletamos de forma seletiva, esse material se junta, e o que poderia ser aproveitado vai para o aterro sanitário. Dessa forma, enterramos dinheiro e recursos — diz a professora.
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De acordo com Dirlane, além de a legislação brasileira ser defasada, a solução passa por uma mudança cultural, na qual a responsabilidade pela destinação do lixo deixa de ser exclusiva do poder público.
— Ainda falta muita educação ambiental para a população. Vejo muito lixo reciclável nos dias que não são de coleta de recicláveis. Em Itaipu, onde eu vivo, a coleta é na quinta-feira, realizada uma vez por semana, mas a maioria das pessoas não tolera ficar com o lixo em casa, porque dá cheiro ou porque simplesmente quer se livrar logo dele— afirma.
O modelo ideal, segundo ela, seria adotar a logística reversa, como a implementada na Alemanha, país que exigiu a participação direta do cidadão na destinação final do lixo.
Recicla Niterói
No mesmo caminho da experiência alemã, a cooperativa Recicla Niterói faz um trabalho de reciclagem e coleta seletiva na cidade, e este ano fechou uma parceria com a Clin, que se responsabiliza pela infraestrutura do programa através da locação dos contêineres móveis, do recolhimento diário e do custeio do espaço físico e do maquinário de prensagem.
Os catadores da cooperativa fazem o trabalho de separação, prensa e comercialização dos recicláveis, mas, como a renda depende do volume de material oletado, os oito cooperados que trabalham no local ganham em média R$ 450 por mês, valor considerado muito baixo por eles.
A equipe do GLOBO-Niterói conversou com cinco destes trabalhadores, que revelaram ter que fazer outros tipos de trabalho para complementar a renda.
— Tenho filhos para sustentar e, apesar de agora eu ter um lugar para trabalhar, o dinheiro não é suficiente para sustentar minha família — diz Priscilla Marques, uma das cooperadas.
Segundo a professora Dirlane, a dificuldade financeira para ser autossustentável é a realidade de grande parte das cooperativas de reciclagem, mas ela explica que o cenário pode melhorar com apoio:
— Para funcionar bem, a cooperativa precisa de uma boa logística de recebimento de lixo. Precisa também de políticas públicas para apoiar essas cooperativas. E a logística reversa do encaminhamento correto do lixo pelos moradores da cidade precisa começar.
Fonte: oglobo
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