A sociedade evoluiu, mas será que o jeitinho brasileiro ainda acomete os condomínios?

 

Jeitinho brasileiro e os condomínios

 

O crescimento do segmento condominial chama a atenção dos mais variados serviços, que abrangem desde a gestão do empreendimento (função que outrora foi preterida) até as transformações digitais como portaria remota, assembleia virtual, micromarkets e tantos outros.

Diversos processos foram acelerados e evoluíram após a pandemia mundial que iniciou em 2020, e muitos comportamentos também mudaram. Mas… será que o jeitinho brasileiro permanece?

Renomados especialistas da área do direito condominial já constataram que a cultura do Brasil ainda implica um maior acompanhamento quando se trata de comportamento e de relacionamento entre condôminos, em comparação com outros países.

No nosso país, vivemos uma sociedade na qual as relações de amizade compõem o dilema quando o cumprimento das regras causa um enfrentamento social. Conforme o antropólogo Roberto da Matta ensina: “aos amigos, tudo, aos inimigos, a lei”.

 

A relação entre ‘’jeitinho brasileiro’’ e os condomínios

O psicólogo Gilberto Gnoato, que iniciou em Curitiba/PR o projeto de conscientização JEITINHO É CORRUPÇÃO, explica que podem ser chamadas de jeitinho aquelas ações para invalidar as regras do condomínio para si, mas exigir o cumprimento pelo vizinho. Gnoato ressalta ainda que o jeitinho ocupa a lacuna entre o que é legal e o que é ilegal. “Neste lugar as regras e as leis são relativas, porque podem valer ou não, dependendo de que contexto ela se encontra e, sobretudo “quem” são os atores sociais envolvidos nas negociações deste contexto”. Clique aqui e confira a live sobre jeitinho e corrupção.

O psicólogo complementa explicando que o brasileiro, em geral, tem dificuldade em diferenciar o público do privado, o que podemos equiparar com a área privada e comum dos condomínios. “A ideia de público no Brasil está pervertida, é problema histórico. Assim, se as pessoas encontram algo na rua, dizem: achei, não roubei”.

Além da relação entre moradores, aspectos da gestão do condomínio também precisam ser observados. Na semana passada (24/11/2021), um síndico acabou preso em flagrante após tentativa de extorsão à uma empresa administradora de condomínio, no Paraná. A notícia se espalhou pelas redes sociais e noticiários, servindo de alerta para práticas inadequadas no âmbito condominial.

Aplicação do compliance nos condomínios

Conversamos com a advogada especialista em compliance, Társia Quilião. A advogada esclarece que o verdadeiro compliance acaba com o jeitinho brasileiro, pois todos deverão respeitar as normas, os regramentos e a legislação. Társia comenta que na aplicação do seu programa de compliance são elaborados relatórios com base na matriz de riscos do programa e, a partir daí, são criados processos, formas e procedimentos para redução de tais riscos. Após, são traçadas estratégias para elaboração de um Código de Ética efetivo, com formas de monitoramento constante de todas as matrizes. 

As vantagens, de acordo com Társia Quilião, são inúmeras: “Dentre elas, mitigação de riscos, redução de custos, otimização dos serviços, o que consequentemente vai gerar maior economia de tempo e dinheiro. Por fim, é importante destacar que é nítida a valorização do imóvel quando se percebe que o condomínio possui um programa de compliance”. (Clique aqui e confira mais dicas sobre compliance)

Fato é que a sindicância exige cada vez mais habilidades empreendedoras para que a função seja corretamente compreendida e exercida, ocupando o lugar de representação da comunidade condominial, e possibilitando a organização entre os coproprietários e a coletividade externa, contribuindo assim para relações mais harmoniosas.

Sobre o jeitinho que beira a corrupção, torcemos que hajam mais corajosos dispostos a inibir condutas imorais ou ilegais, e mais consciência de que o ganho imediato de forma inadequada não compensa. Que a probidade seja cada vez mais valorizada e adotada como critério de escolha do representante da massa condominial e demais prestadores de serviço.

Se os condomínios são comunidades, que tal começar neles a mudança do nosso país?

 

 

Escrito por:

Karla Pluchiennik Moreira, head de estratégias do Viva o Condomínio e empresas coligadas à rede Condomínios Garantidos.

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS:
Gilberto Gnoato, professor de antropologia, psicólogo, doutor em violência conjugal (@ggnoato | ggnoato@onda.com.br)
Társia Quilião, advogada especialista em compliance, professora, escritora e palestrante (@tarsiaquiliao)
Escrito por:

Karla Pluchiennik - Administradora pós-graduada em Direito Empresarial e Influência Digital, coach e practitioner em PNL, empresária e consultora de produtividade. Instagram: @karlapluch

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