Publicado em 4 de junho de 2021

Condomínio sustentável: todo mês, eles transformam 8 toneladas de lixo em adubo

Condomínio sustentável: todo mês, eles transformam 8 toneladas de lixo em adubo. Iniciativa de morador contou com apoio de boa parte dos outros condôminos.

Iniciativa do morador Rogério Airoldi contou com apoio de boa parte dos outros 1.600 condôminos e fez do local onde vivem exemplo de boas práticas para o meio ambiente

 

Condomínio sustentável: todo mês, eles transformam 8 toneladas de lixo em adubo

 

Tudo começou porque o professor de física Rogério Airoldi, 46 anos, queria dar um bom exemplo para os dois filhos. Queria tirá-los um pouco do mundo virtual e dar uma ideia prática de como tornar o lugar onde vivem mais sustentável. O problema é que a família mora em um condomínio imenso. Por isso, antes de tirar suas ideias do papel, ele precisou convencer também a maioria dos outros 1.600 moradores. O único jeito foi se tornar síndico por acidente, como ele diz. No fim deu tudo certo. De seis anos para cá, o conjunto de prédios no Butantã, na zona oeste de São Paulo, se tornou referência em sustentabilidade.

Ao longo desse período foram construídas 11 composteiras, que transformam mensalmente 8 toneladas de resíduo orgânico dos moradores em adubo. O adubo é usado para o jardim e também fez de uma área abandonada, cheia de entulho, numa imensa horta comunitária, onde cada um planta o que quiser. Da horta, veio a ideia de coletar a água das áreas comuns. Foram instaladas quatro caixas d’água com capacidade total para armazenar 45 mil litros. O lixo reciclável também é todo separado e colocado em containers. Eles não usam mais sacos plásticos. O dinheiro arrecadado pela coleta entra na caixinha dos funcionários mensalmente. Uma coisa vai puxando a outra e as ideias para melhorias já mobilizam mais de uma centena de moradores.

Airoldi tem todos os números dessas ações em uma planilha.

A conscientização, por exemplo, ajudou o condomínio a economizar só em saco de lixo cerca de R$ 80 mil nesses últimos anos. “Se empilhássemos os sacos vazios que deixamos de usar daria uns 80 metros, maior do que as nossas torres de 17 andares, que têm 60 metros.”

Ele também calculou os benefícios para a cidade. “O custo da tonelada de lixo é em torno de R$ 400 entre logística e armazenamento. Ou seja, no ano, ajudamos a prefeitura a economizar por volta de R$ 36 mil. Em cinco anos, ajudamos a economizar R$ 180 mil.”

O sonho do professor é que a iniciativa do seu condomínio inspire outros prédios e outras pessoas a adotarem medidas mais sustentáveis. “A cidade tem algo em torno de 20 mil condomínios. Digamos que metade faça isso. São dez mil. Seriam R$ 360 milhões por ano economizados com lixo só na cidade de São Paulo. Poderia criar o imposto verde em cima disso, devolver parte do dinheiro para os condôminos. Há uma infinidade de possibilidades.”

O início

O passo a passo para iniciar esse processo, no entanto, não foi fácil. Rogério não conhecia outro condomínio na cidade com essa preocupação ambiental, e precisou pensar um projeto do zero. Para ter voz entre os milhares de moradores, virou síndico. E foi devagar com a ideia de sustentabilidade. Rogério deu uma olhada no lixo para sugerir a coleta seletiva e notou que a quantidade de resíduo orgânico era muito maior do que a de material reciclável. Pensou então na compostagem.

Airoldi é natural de Santo Anastácio, um pequeno município de 20 mil habitantes, no interior de São Paulo, quase divisa com o Mato Grosso do Sul. Ele viveu até os 17 anos na roça, ajudando a família nas plantações de café e queria passar um pouco para os filhos Gabriela e Pedro dessa experiência de estar perto da terra. Também tinha saudades do que fazia na infância. Desde que mudou para São Paulo para estudar engenharia na USP, viveu em apartamento. E sempre na região do Butantã. Casou, separou, terminou graduações e pós-graduação e continuou no bairro.

No prédio dele, por sinal, vive toda a família. Ele em um apartamento, a esposa em outro e a sogra em mais outro. A sogra é uma das grandes incentivadoras no projeto de sustentabilidade. Mas nem todo mundo pensava como a mãe de sua ex-mulher. A sugestão das composteiras foi inicialmente banida pela maioria.

Diziam que esse negócio de guardar lixo iria atrair barata e ratos, iria cheirar mal e degradar o condomínio. A discussão foi longa, durou cerca de um ano. “Me falavam: dá um exemplo então de um condomínio que faça isso. E eu ficava sem resposta. Não tinha, não conhecia ninguém.”

 

 

Fonte: Terra

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